5 de setembro de 2008

As desventuras dum levado da breca

Há munto, munto tempo, lá prós lados d'Alguidêras de Báxo, havia um cumpadre que na tinha tôdas nu sítio.
Atão naé qu magano se lembrou ca enxada servia na só pra guardar as poupanças, mas tamém pra trabalhari.
Aquele Alguidêrense du real cabrãum, resolveu um dia que tinha uma árvures pra transplantari, pegou-se nele e na puta da enxada, meté-se pra verêda acima, cortando uns tojos e umas estêvas plo caminho, chegou-se ao cimo do monti, deu duas murdidelas no palito que levava no canto da bôca, e enfiou-se pla ladêra abáxo.
Lá ia o gajo cantarolando umas parvoiçis parvas:

Um acidenti teve a Bia
disse-me a minha cumádri
à porta da sacristia
ficou debáxo dum padri

lálárálálá

Perdi a minha caneta
lá prós lados da Várzea
se lá fores e viresi-a
tráze-a!

lálárálálá

Chegando à horta, pôsou a enxada, dirigiu-se à arvuri e declamou:

No tempo dos visigodos
e tamém dos barbáros
em cus homens subiom às arvóres
e cumiom os passárus

lálárálálá

Ouvindo istu a ávuri perdeu as folhas, nisto, o Alguidêrensi pega na enxada, lavanta-a lá prós altos, e lembra-si:

De cavar na gosto nada
sou tudo mas parvo não
mais vale uma mão enxada
cuma enxada na mão

Gostar de trabalhari
ainda na há manêra
portanto vou-me dêtari
debáxo daquela azinhêra

E lá foi o magano do homem. Prantou-si debáxo da azinhêra, sacou do capa-grilos e, ia cumendo uma beletras, enquanto esperava pla hora da bucha.

A seguiri vou almuçari
mastigo umas carcaças
saí pra trabalhari
tava um calor do caraças

Chegada a hora sagrada, ele saca do panito, da bela da linguiça, do garrafão de vinhu, e lá vai ele, desalvorado, engalfinha-se à merenda, e só parou quando já na havia mais nada pra cumeri.

É cá sou uma ganda besta
de sopa comi cinco malgas
e quando ia prá sexta
A Maria dé-me nas nalgas

O cabrão comeu tanto e tanpouco que, sem saber daondi, veio-lhe uma daquelas caganêras de fazéri um homem chamar pra mãezinha.

Foi por báxo , foi por cima
tal foi a cagadela
que a burra da minha prima
até ouviu na casa dela

A caganêra era tal
que a merda rolou pla casa
atrevessou o quintal
fiquê com o cu em brasa

Coitadito, já recompoustu, meté-se na alheta. Pisgou-se dali pra fora, antes cas moscas chegassém. Ladêra acima, pla várzea abáxo, lá foi ele ter ca Maria.

A Maria foi à fonti
à cabeça uma bilha
vim lá de cima do monti
fui-me a ela, e parti-lha

"desculpa, amôri!"

Por ti subi um écalitre
com uma rosa na mão
desencalitrê-me lá de cima
marrê cus cornos no chão

A minha Maria a ressonári
na sê se á desperto-la
é que se ela na gustari
se calhar manda-me à Mértola

A cachopa é vaidosa
anda ca gadêlha ruça
ou dêxa de ser têmosa
ou então leva na fuça

Mas é cá na sou esquesitu
no que respêta a mulhéris
se é pra me polir o apito
podem ser umas quaisqueres

O raio do alentejano era artista, é na tenho culpa destas rimadas.
Na quero repetiri, a culpa na é minha, é do cabrão do alentejano.
Tal tá a cachaporra, heimm!! na digo más vez nenhuma!!!
Bom! Bom! Tá a burra nas couves, vou ter que andar às lengadas com alguéim!!
Pronto! Pronto! Tá o caldo entornado!! Agora é que vão ser elas!!

Se me tão a chatear
com a vossa lenga-lenga
tão aqui, tão a levar
tal tá a moenga!! (Porra!!)

Vocemesseas digam se gostom ou não, qué cá quando me cairi uma beletra nos cornos, é cá alevantu-me de debaixo do chaparro e venhu léri. Óbrigaditu

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